domingo, 23 de maio de 2010

Não soube mentir

Eu não sei contar mentiras. Um dia eu quebrei um vaso e disse à dona: “Um amigo seu quebrou seu vaso…”. Como só eu e ela estávamos em casa, ela disse: “Foi você!”. E eu: “Pois é, mas não esqueça de que eu sou seu amigo…”. Rimos muito da minha cara de “sei que não vai colar…”. Daí ela saiu da sala por um instante e quando voltou trouxe uma bisnaga de cola, e colamos o vaso.

O tempo passou, mas eu não aprendi a contar mentiras. Um dia ela estava triste, parecia uma desvalida, e resolvemos sair pra passear. Conversávamos baixinho, na maior parte eu apenas escutava, e ela desmanchou-se em lágrimas enquanto lamentava sua infelicidade no amor. De repente ela gritou: “Ninguém me ama, ninguém me quer!”. E eu, arrancando algumas flores que pendiam do muro de uma casa, gritei para ela: “Um dos teus amigos te ama, te quer, e ele mandou entregar estas flores!”. Ela as recebeu sorrindo, e enquanto se desfazia das lágrimas que ainda lhe sobraram, disse: “Mas só pode ser você!”. E eu, com minha cara de “pelo menos uma vez na vida eu consegui fazer isto!”, confirmei tudo, e começamos a namorar.

Mas contar mentiras não era o meu forte... e um dia ela me pegou abraçando uma outra garota, que eu acabara de conhecer e de quem logo me afeiçoara. Ela não aceitou explicações naquela hora, apenas tocou no meu ombro e, quando me virei para ver, tomei um belo tapa. Logo em seguida ela correu feito uma louca, nem se preocupou com trânsito nem nada, me forçando a ir em seu encalço. Estávamos oficialmente "brigados".

Quando ela me deu alguma oportunidade de conversar, eu (ainda sem saber contar mentiras) disse a ela que a garota do abraço era minha irmã por parte de pai (ele, sim, sabia mentir…), e que havíamos nos conhecido naquele dia. Ela não acreditou, disse que eu estava mentido, mas eu não estava. E continuamos de mal.

Minha meia-irmã me pediu desculpas, eu disse que não havia do que se desculpar. Ela até quis falar com o então quase “ex-primeiro-único-e-grande-amor” da minha vida, mas eu pedi que ela não o fizesse. Se a minha quase ex-garota não acreditava em mim, tampouco acreditaria na minha suposta amante. E prosseguimos afastados, porém não definitivamente separados.

A situação era complicada, ela esperava um pedido de desculpas por algo que eu não havia cometido. Ela queria que eu dissesse: “Eu te traí, meu amor. Perdoe a minha fraqueza…”. Mas, como eu já disse, eu nunca soube mentir. Enfim, perdi o “primeiro-único-e-grande-amor” da minha vida.

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